Outro dia eu conversava com a minha mãe sobre o meu transitar entre "o criar asas" e "o criar raízes", quando ela, contrariando o meu achismo, disse simplesmente: "se você acha que vai ser melhor pra você, pode ir embora pro Sul". Não sei se consegui disfarçar minha perplexidade diante da reação dela, não porque eu esperava que ela falasse que não ia me deixar partir de jeito nenhum, e sim por ela achar que eu sei o que é melhor para mim... como é que eu posso saber isso? Na verdade eu sempre esperei que ela soubesse o que é melhor pra mim, foi aí que eu percebi que a minha mãe nunca foi dessas que me obrigava a fazer algo. Ela simplesmente me explicava como funciona o mundo, me mostrava as alternativas e deixava que eu as escolhesse se colacando sempre ao meu lado para me apoiar! Muitas vezes eu até queria que ela dissesse exatamente o que eu tinha que fazer, mas ela sempre confiou tanto em mim que me deixava livre para as escolhas que eu quisesse. Não é dessa vez que isso ia ser diferente! Talvez se ela simplesmente dissesse 'você não vai embora e PONTO FINAL!", tudo seria bem mais fácil pra mim. Eu ia sair dessa dúvida existencial e iria começar a construir minha vida em bases sólidas por aqui mesmo, num lugar que eu não escolhi, mas que de certa forma me escolheu! Mas acontece que minha mãe não é assim, ela nunca vai me impedir de fazer algo e nunca vai me dizer o que eu tenho que fazer, ela sim deveria ser Psicóloga, isso é inerente à ela! E acontece que eu tenho muito medo de tudo que está por vir, mas também tenho dentro de mim sonhos e vontades que não cabem aqui, parece que o mundo inteiro gira dentro do meu peito. Eu sei que cirar raízes seria o mais sensato, o mais seguro e o mais cômodo agora, na verdade eu já batalhei bastante até chegar aqui, talvez agora fosse a hora de descansar um pouco, não dá... não sou assim! Eu não conseguiria criar raízes, em compensação minhas asas estão prontas para me levar, apesar do medo elas estão aqui insistindo em bater, os passarinhos devem sentir muito medo na primeira vez que voam sozinhos, mas mesmo assim o fazem... essa é a natureza deles! O medo pode te paralisar ou te incentivar a superar seus limites, eu fico com a segunda opção, que não é a mais fácil, mas é a única que cabe à mim!
E no meio dessa minha antítese viva eu me deparei com um texto da Martha (que sempre me emociona), que parece ter sido escrito para mim... esse texto me tocou de uma forma arrebatadora, então vou deixar um trecho dele aqui:
E no meio dessa minha antítese viva eu me deparei com um texto da Martha (que sempre me emociona), que parece ter sido escrito para mim... esse texto me tocou de uma forma arrebatadora, então vou deixar um trecho dele aqui:
"Pessoas com vidas interessantes não têm fricote. Elas trocam de cidade. Investem em projetos sem garantia. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida.
Para os rotuladores de plantão, um bando de inconseqüentes. Ou artistas, o que dá no mesmo. Ter uma vida interessante não é prerrogativa de uma classe. É acessível a médicos, donas de casa, operadores de telemarketing, professoras, fiscais da Receita, ascensoristas. Gente que assimilou bem as regras do jogo (trabalhar, casar, ter filhos, morrer e ir pró céu), mas que, a exemplo de Groucho Marx, desconfia dos clubes que lhe aceitam como sócia. Qual é a relevância do que nos é perguntado numa ficha de inscrição, num cadastro para avaliar quem somos? Nome, endereço, estado civil, RG, CPF. Aprovado.
Bem-vindo ao mundo feliz.
Uma vida interessante é menos burocrática, mas exige muito mais."
(Do texto "Uma vida interessante" por Martha Medeiros em 22 de março de 2006)*
Para os rotuladores de plantão, um bando de inconseqüentes. Ou artistas, o que dá no mesmo. Ter uma vida interessante não é prerrogativa de uma classe. É acessível a médicos, donas de casa, operadores de telemarketing, professoras, fiscais da Receita, ascensoristas. Gente que assimilou bem as regras do jogo (trabalhar, casar, ter filhos, morrer e ir pró céu), mas que, a exemplo de Groucho Marx, desconfia dos clubes que lhe aceitam como sócia. Qual é a relevância do que nos é perguntado numa ficha de inscrição, num cadastro para avaliar quem somos? Nome, endereço, estado civil, RG, CPF. Aprovado.
Bem-vindo ao mundo feliz.
Uma vida interessante é menos burocrática, mas exige muito mais."
*Ela escreveu este texto um dia depois do meu aniversário de 18 anos, quando minha vida começou a mudar de novo!
Sinto que baterei minhas asas!!
"Eu abrirei minhas asas
E aprenderei a voar,
Farei o que for necessário
Até tocar o céu!"
E aprenderei a voar,
Farei o que for necessário
Até tocar o céu!"
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